Apesar das grandes conquistas femininas, a mulher ter provado milhares de vezes o seu poder de resiliência e conciliação das tarefas mais adversas. Desde prover uma família a trocar fraldas, contar histórias e dar colo até a tomada de liderança numa multinacional. Com nossa legislação em constante mudança, aproveitamos o mês de outubro para validar uma luta que vem se arrastando desde nossa criação: A luta contra a violência à mulherEm pleno século XXI ainda precisamos ser incisivas e repetir várias e várias e várias vezes: quem ama não machuca, quem ama respeita, quem ama não mata. Sei o quanto é delicado este tema, pois até para nós mulheres, conviver com a violência tornou-se uma normalidade de gênero. E neste momento de transição em que estamos em meio a conquistas e derrotas, quando alguém fala sobre violência, parte da população se sente ameaçada e em sua maioria das vezes nem sabe o porquê. A cultura da submissão e do medo enraizado em nós mulheres, nos fez por muito tempo vivenciar ou presenciar cenas de violência em que a explanação sobre tais atos sempre recaía sobre a própria vítima. E daí paramos. Cansamos. De sermos mal compreendidas. Muitas vezes a feminista era a mal-amada da família, a anarquista revolucionária e tantos outros rótulos mal elaborados e inseridos com tamanha ignorância, que por muitas vezes nós, cansadas, não reagimos. Vivemos em um momento de transição. E quando a gente fala, parte da população se sente ameaçada e muitas vezes nem sabe o porquê. Sente-se acuada, com medo. E aí começa a criar uma reação em cima de mal-entendidos e, em geral, por falta de conhecimento. Vira normal a gente ouvir que a Ana tomou um tapa na cara porque “Também, com aquela roupinha curta tá querendo o quê?”, ou que a Vera odeia o cabelo comprido, porém deixa crescer porque “tem que agradar o marido”. E a Sofia que ama jogar futebol, mas agora só assiste na TV (escondida) porque o namorado não acha que futebol é coisa de mulher. E a Fátima como mãe assiste o marido sair para o baile e voltar de madrugada “Porque tem que cuidar dos filhos e além disso, está muito mal arrumada, vai acabar e perdendo o marido”, tendo que no outro dia lavar a roupa manchada de batom e muitas vezes deixar o café da manhã para o príncipe que vai acordar de ressaca e nem irá dizer bom dia. E nos calamos. Diante de tais fatos ouço ainda assim “ele é um marido bom, sempre volta pra casa, ajuda a pagar as contas”, ou então “nossa como seu marido é bonzinho, vai até ao mercado comprar as coisas pra você”. Enfim, deduções que quando a vítima dessa agressão, sim agressão porque tudo o que relatei acima são agressões contra a mulher, decide desabafar ou falar que está sendo agredida a pergunta mais infeliz é “Nossa, mas quando ele te bateu?” Digo a você leitora, que se você se identificou com esse texto, procure ajuda nem que for em nosso blog, pois você está sendo agredida! Lutar conta o sistema covarde e machista em que vivemos não te faz menos mulher, não te faz menos mãe, não te faz menos esposa e muito menos uma mulher fraca. Dar voz às nossas conquistas é fazer jus do nosso Direito adquirido como ser humano que somos, livres, propondo divisão de tarefas domésticas, cuidado com a criação dos filhos, participação dos pais na escola, e sim, sonhar. Que não fiquemos mais caldas quando ficamos sabendo que a Maria recebeu quatro tiros; Júlia, cinco facadas; e Tereza, perdeu o movimento de um braço de tanto que apanhou. Pensem que muitas outras perderam a vida diante de uma arma e quem estava apertando o gatilho, eram os homens que com elas conviviam… Exemplo de tantos outros companheiros, namorados e maridos no Brasil afora, assassinaram ou feriram Marias, Patrícias, Susetes e Eloás. Convictos de que lavavam a honra do lar com sangue, humilhações ou empurrões. E o início disso tudo foi “Mas ele é bom, não é agressor. Ele ainda não me bateu”. Praticar o feminismo é reconhecer nossa liberdade.Você mulher, ou não, porque na verdade você ser humano que compartilha da ideia de que todos com suas diferenças possuem direitos iguais, vamos encarar o feminismo como um “exercício de transformação da sociedade”. Eu sei que falar sobre tudo isso é como jogar um álcool sobre uma grande ferida aberta, que arde, dói, mas para que se cure, faz-se necessária. Vamos dar voz a nossa legitimidade da mulher como ser independente, iluminar com holofotes a causa, sem minimizar os episódios. É preciso avançar a discussão para os abusos que ocorrem dentro das casas e no entorno das vítimas, estatisticamente maioria absoluta nos registros de feminicídios. Isso é muito sério e deve ser combatido. “Ninguém solta a mão de ninguém” talvez hoje tão atualizado, poderia ser complementado se um texto fosse com: sua dor é a minha dor, que só passará quando todas se curarem. The post Mas ele AINDA não me bateu… appeared first on Superela. via Superela https://ift.tt/34i9W06
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