Sabemos que ser mulher em mundo patriarcal nunca foi tarefa das mais fáceis, ainda hoje na contemporaneidade debatemos quase que constantemente as imposições e rótulos dos quais somos submetidas. Ao longo dos séculos as mulheres que ousaram exercer sua sexualidade livremente, sofreram as duras penas dos julgamentos e violências em nome da moral e os bons costumes. No entanto, os anos se passaram e o tempos mudaram, e junto da liberdade que conquistamos, surgiu também novos modelos de relacionamentos sexuais e afetivos, as chamadas relações livres, o amor pelo amor, sem amarras, sem monogamia, sem correntes, sem hierarquias. Não, pera! Os relacionamentos poliamorosos…Evoluímos enquanto sociedade, conquistamos direitos, e o conceito da mulher com rótulos, aqueles criados por homens, nos colocando dentro de embalagem invisíveis e fáceis de ler, “a pra casar” e “a pra se divertir” virou coisa de um recente passado. No entanto, novas nomenclaturas surgiram no mundo moderno e mais uma vez a pegadinha da imposição de etiquetas pode acontecer. As relações livres podem se revelar verdadeiras imposições e lugar de sofrimento para as mulheres. Lugar esse no qual o sofrimento não abre espaço para debate, pois tem a liberdade como aparência. Enquanto mulher em um mundo patriarcal, a ideia de relacionamentos abertos e sem posse muito me atrai, pois cada uma de nós mulheres temos histórico de imposições e ciúmes excessivo em nossas relações. Segundo o IPEA, 1,3 milhão de mulheres sofrem violência de gênero anualmente, sendo maioria esmagadora pelas mãos dos parceiros. O direito à posse que o sexo masculino acredita ter sobre as mulheres é um dos grandes responsáveis pelas altas taxas de violências das quais somos expostas diariamente. E um modelo de relacionamento que promete quebrar algo que nos amedronta é de verdade muito sedutor. Porém, vivemos em um mundo ainda desigual, e ainda não há mudanças significativas nas relações de gênero. E muito provavelmente nos relacionamentos poliamorosos. O que é escolha e o que é imposição?O fato é que homens desde cedo são incentivados a manter o máximo de relacionamentos que conseguirem e, ao mesmo tempo, nós mulheres somos condicionadas a disputaremos a atenção masculina, e consequentemente, nos magoamos e ofendemos umas as outras nesse processo. Apesar dos novos e aparentemente libertadores modelos de relacionamentos, nós mulheres ainda carregamos as inseguranças das quais séculos de submissão nos aprisionou. A maioria de nós ainda não detém de liberdade e segurança para viver relações teoricamente sem amarras, ainda carregamos muito do peso das violências e traumas que o patriarcado nos impôs. Logo o que era para ser evolução nas relações contemporâneas por vezes são apenas as antigas relações com nova roupagem, o fator determinante para que isso ocorra, é a posição em que as mulheres ocupam nesses relacionamentos, seus desejos, escolhas e preparo emocional. Para os homens reivindicar o poliamor, é um processo mais fácil e atrativo frete à monogamia. Entretanto, as vezes as mulheres o fazem por pressão, e também, ao se negarem ao modelo proposto por seu parceiro, sofrem julgamentos que as coloca em lugar de possessão e moralismo. É que precisamos nos conhecer primeiroEntanto, a maioria de nós ainda não conhecemos de fato nossas preferências sexuais, não somos no geral empoderadas nem ainda reivindicamos nossa sexualidade como nossa. Ainda pensamos nos desejos e satisfação dos nossos parceiros. Precisamos antes de nos encaixar a um modelo, entender do que gostamos, tomar uma decisão de entrar em qualquer modelo pelo parceiro, nos insere em um lugar de violência muito doloroso e silencioso. Outra problemática sempre presente nos relacionamentos ditos livres, é que por vezes a liberdade sexual é uma prática concedida somente aos homens. Quero frisar aqui que não há problema nesse modelo se ele não te aprisiona, mas na prática, não passa de uma ressignificação das violências presentes em nossas vidas por séculos. Basta a mulher decidir exercer sua sexualidade com outros parceiros para que seu companheiro repense a relacão e coloque em dúvida a validade do modelo. A nossa liberdade depende de nósCom isso não quero dizer que desacredito do poliamor, afinal, é um modelo que combate as relações monogâmicas engessadas onde só há espaço para heterossexuais. Eu desacredito da forma com que ele muitas vezes é inserido nas vidas das mulheres e acredito que nossa libertação sexual, em primeiro lugar, diz respeito a nós. Ela não deve acontecer para privilegiar mais uma vez a sexualidade masculina. Se escute primeiro, se descubra e aceite o que lhe faz bem, e principalmente, precisamos sempre debater relações que nos submetem, mesmos as que se escondem atrás do manto da liberdade. Imagem: Unsplash The post Relacionamentos poliamorosos: escolha ou imposição? appeared first on Superela. via Superela https://ift.tt/3mxIgKY
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